Outro dia recebi um comentário meio dessaforado aqui no blog, dizendo que Victor & Léo sim é que é dupla sertaneja e outros nomes como João Bosco & Vinícius não podiam nem mesmo ser chamados de sertanejos… Fiquei nervoso com tamanho despautério… Então resolvi escrever esse post sobre as 4 fases do sertanejo que, como tudo nesse mundo, também evolui…
Primeira Fase

Para começo de conversa, a música sertaneja é derivada de um estilo mais antigo, conhecido como música caipira, que tinha como seus principais representantes Tonico & Tinoco, Zico & Zeca… Era uma sonoridade bem rural, falava sobre o homem do campo, suas histórias e causos.
Segundo Cornélio Pires, que conheceu a música caipira em seu estado original, ela se caracteriza “por suas letras românticas, por um canto triste que comove e lembra a senzala e a tapera, mas sua dança é alegre”. Entre suas mais destacadas variações, está a moda de viola.
Segunda Fase
A música caipira então evoluiu nas vozes de Milionário & José Rico, Matogrosso & Mathias, entre outros, que fizeram desta segunda fase um misto de canções sobre o sertão e músicas com uma levada romântica, com canções de amor, letras apaixonadas, sofridas…

Dessa época vem a fama da “musica de corno”…
Outros nomes, como a dupla Pena Branca e Xavantinho, seguiam a antiga tradição caipira, enquanto o cantor Tião Carreiro inovava ao fundir o gênero com samba, coco e calango de roda. Mais sobre Tião Carreiro aqui.
Terceira Fase
A introdução da guitarra elétrica e o chamado “ritmo jovem”, pela dupla Léo Canhoto e Robertinho, no final da década de 1960, marcam o início da fase moderna da música sertaneja. Um dos integrantes do movimento musical Jovem Guarda, o cantor Sérgio Reis passou a gravar na década de 1970 repertório tradicional sertanejo, de forma a contribuir para a penetração mais ampla ao gênero. Renato Teixeira foi outro artista a se destacar.

Durante os anos oitenta, houve uma exploração comercial massificada do sertanejo, somado, em certos casos, à uma releitura de sucessos internacionais e mesmo da Jovem Guarda. Dessa nova tendência romântica da música sertaneja surgiram inúmeros artistas, como Trio Parada Dura, Chitãozinho & Xororó, Leandro & Leonardo, Zezé Di Camargo e Luciano, Chrystian & Ralf, Chico Rey & Paraná, João Mineiro e Marciano, Gian e Giovani, Gilberto e Gilmar, Bruno & Marrone, além das cantoras Nalva Aguiar e Roberta Miranda.
Alguns dos sucessos desta fase são “Fio de Cabelo”, de Marciano e Darci Rossi, “Aspartamento 37″, de Leo Canhoto, “Pense em Mim”, de Douglas Maio, “Entre Tapas e Beijos”, de Nilton Lamas e Antonio Bueno e “Evidências”, de José Augusto e Paulo Sérgio Valle.
Correndo pela tangente desta tendência mais comercial da música sertaneja, reapareciam nomes como da dupla Pena Branca & Xavantinho, adequando sucessos da MPB à linguagem das violas e surgiam novos artistas como Almir Sater, violeiro sofisticado, que passeava entre as modas de viola e o blues.
Quarta Fase – Sertanejo Universitário
Voz e violão, CD exageradamente pirateado, um punhado de regravações e a posterior gravação de um DVD com várias músicas inéditas e regravações, num esquema acústico bem melhor elaborado e que vendeu milhões. Parece a história de uma dupla universitária, não é verdade? Só que estou me referindo a Bruno & Marrone, que, sem saber, desenhavam as primeiras etapas da história de sucesso desse novo segmento dentro da música sertaneja, isso cerca de 4 anos antes do surgimento para o Brasil do estilo conhecido como sertanejo universitário.
No início dos anos 2000, João Bosco & Vinicius fizeram o mesmo com o CD “Acústico no Bar”, com a diferença de que, dessa vez, a coisa foi intencional. E deu certo… Todos os carros parados na porta de bares por todo o Brasil, com o porta-malas aberto e tome João Bosco & Vinícius…
A consolidação veio com a dupla Cesar Menotti & Fabiano. E nesse caso, posso dizer que fui testemunha ocular do ocorrido.

Os meninos surgiram em Belo Horizonte, capital mineira, tocando em bares, festas, churrascos, cervejadas, frequentadas principalmente por universitários. Estudantes vindos do interior para estudar na capital. Em determinado momento, propositadamente ou não, começou a circular um CD gravado ao vivo, mas não reconhecido pela dupla (será?)…
Um amigo do primo de um amigo meu gravou pra ele, ele gravou para outro amigo, que levou pra nossa cidade, no interior e gravou pra mim. Imagine o poder de disseminação de uma rede como essa! Em pouco tempo o CD circulou por Minas Gerais inteiro e depois ganhou o resto do Brasil.
Então a dupla gravou um DVD ao vivo, este sim oficial, com muito das características do anterior, que era “pirata”… Estouraram…
A coisa tomou outras proporções e abriu espaço para o surgimento de duplas como Jorge & Mateus, Victor & Leo, Fernando & Sorocaba. Hoje o sertanejo universitário é “a bola da vez”, executado incansavelmente em rádios de todo o Brasil. De acordo com pesquisas recentes (tirei da cachola mesmo…), surge quase uma dupla por minuto nesse brasilzão de meu Deus…
Nenhum comentário:
Postar um comentário